CRÔNICA: “SERTANEJO UNIVERSITÁRIO” E A UNIVERSIDADE

 

CRÔNICA: “SERTANEJO UNIVERSITÁRIO” E A UNIVERSIDADE

   Tercio Inacio Jung

                Enfim, cheguei a uma modesta compreensão do conceito “sertanejo universitário”, conceito que define um estilo musical que bomba nas trilhas sonoras da atualidade. Por favor, que os compositores da música sertaneja de raiz não me compreendam mal.

                Felizmente, fui convidado para uma janta na casa do amigo Eron Domingues, que restaura aparelhos de som antigos, um verdadeiro artista. Após a saborosa janta, regada a vinho branco, fomos ao “ateliê” do meu amigo artista, local da prática de sua arte de restauro. Evidente que um apaixonado por som antigo (restauro de aparelhos de som antigo), também montaria um Studio de fundamento – modesto, mas, de qualidade - com um “set” musical digno de um artista. Os vinis foram tocados num “Marantz”, dos anos 60, e as fitas num Gradiente”, dos anos 70 (sem falar do “Akai”, toca fita de rolo dos anos 50), sempre primando pela qualidade do som.

                Confesso que até rodou fita com música bandinha e um sertanejão antigo. Felizmente, já que música é questão de gosto (nem sempre de bom gosto), rodou muito mais rock dos anos de ouro: Creedence, Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles, Queen, Bee Gen, AC/DC, Surpertramp, Jimi Hendrix, Legião Urbana, Tina Turner, Elvis Presleye e é claro, Raul Seixas.

                E, eis que me vieramas questões deprimentes: porque, com tanto música boa, sobressai o sertanejo universitário? E, o que a universidade (já que chamam de sertanejo universitário) tem a ver com isto?

                Lembrando que rolou um vinho branco na janta e um charuto durante a magnífica execução musical, acabei divagando levemente, ou melhor, comparando a universidade - que deveria produzir conhecimento/ciência, transmitir, produzir e renovar a tradição cultural - com a produção musical acima referida e a produção musical sertaneja.

Parece-me que a universidade também já passou por seus anos de ouro, mas, atualmente, está resignada em apresentar/fazer apenas aquilo que é desejoso no momento, ou seja, adquirir um diploma, pois o gosto está restrito a empregabilidade e não há mais gosto pela tradição, pela história, pela cultura, pelas gerações anteriores, pelo conhecimento e pelas ciências.

                Entretanto, ainda há esperança, pois ainda existem artistas restauradores de aparelho de som antigo, logo, há pessoas que usam estes aparelhos restaurados e, tudo indica que sejam pessoas de gosto diferenciado.

                Na universidade também ainda existem alguns enraizados nas tradições de saberes, saberes historicamente construído, mas não ideologicamente absorvidos; alguns sedentos de saber profundo, científico e não apenas técnico-instrumental-profissionalizante.

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