CRÔNICA: “O PECADO ORIGINAL”

 

CRÔNICA: 

 

“O PECADO ORIGINAL”

 

Quem convive comigo já sabe que ando definindo religião, política e futebol como questões de crença, ou em outras palavras, questões de autoconvencimento, no sentido de que cada um já se convenceu a partir de uma rede de ideias (e até de experiências) e ponto final, vai acreditar naquilo até onde se suportar, pois os outros facilmente já o deixaram “falando sozinho”. Aliás, quem sabe, por isto do ditado: religião, política e futebol não se discute.

Mas, retomando a tese do “pecado original” e seguindo na questão da religião: estou cada vez mais inclinado a pensar que o pecado original não tem nada a ver com a concepção pelo sexo, ou ainda com Eva comer a fruta ou Adão “transar” com a Eva, mas, que o pecado original, que nos macula desde a concepção, tem origem numa “carência” de ordem psíquica/afetiva.

Calma lá psicólogos/as e psiquiatras, vou tentar apresentar os argumentos pelos quais estou me autoconvencendo: 1. A causa profunda e primeira (inconsciente ?) do casamento é uma questão de carência afetiva e não tem nada de altruísta; isto mesmo, eu uso ela e ela me usa para tentar compensar algo q falta (provavelmente tenha relação com o ponto 2, que segue); 2. Os filhos também são gerados para preencher algo nos pais, ou melhor, outra ou a mesma carência; 3. será que os filhos não são a contrapartida, no relacionamento conjugal, que a mulher dá - ou precisa dar? E EIS QUE SOMOS CONCEBIDOS NO “PECADO”. Lembrando que nossos pais (e os pais deles...) também são fruto do mesmo “pecado”.

Não faz sentido a Igreja ter criado e investido tanto na criação da culpa em cima do ato sexual e ter deixado passar em branco este USO que ocorre entre duas pessoas e da qual surge uma terceira (quarta, quinta, sexta...), a fim de se “auto-realizar” enquanto indivíduo “carente”. ISTO SIM PODERIA SER CLASSIFICADO COMO PECADO ORIGINAL. Entretanto, não pode, pois em muitos casos é inconsciente mesmo e em todos os casos é de fato uma carência, falta de algo, algum vazio... (quem sabe até orgânico).

Logo, se eu sou fruto de carências, como não nascer carregando-as também? É praticamente uma condição humana, que precisa ser “descoberta” e vitalmente considerada no ser humano. Eis - se tiver pecado original - o que precisa ser redimido em cada um de nós.

Certamente alguns já pensaram na geração invitro como solução, entretanto, o sêmen e/ou o óvulo não são fabricados em máquinas. Ou ainda, a carência é trocada pela indiferença...

Será que nos agarramos a alguém (deuses, esposa, filhos, pais idosos, doentes...), e/ou a algo (profissão, acúmulo de bens, títulos acadêmicos, drogas, doenças...) por carência?

APROFUNDANDO...

Seria a morte algo que nos falta em vida?

Ouso arriscar afirmar que a VIDA e a MORTE são nossos dois sentidos endógenos, assim como os outros 5 sentidos são os exógenos. Mais ainda, quem sabe o símbolo chinês do yin-yang representa perfeitamente a vida e a morte em constante movimento em nós e nos nossos sistemas familiares? E
o que nos move para viver é o seu oposto, ou melhor, o não viver, ao menos enquanto não tivermos consciência destes dois polos em nós. (Será que a pulsação de morte é devido nossa condição orgânica/corpo?).

Inconscientemente nos sobrecarregamos de tal forma que se queixar de não ter tempo é um alívio, mas, no fundo, tentamos nos afastar da não vida (só o conceito de morte já nos assusta, arrepia... por que tanto assim, se ela faz parte da nossa condição orgânica?). Convém deixar claro que não estou fazendo apologia à morte, mas a vida em sua essência e totalidade.

Buscar a vida é bem diferente de sobrecarregar-se, ou ainda, retomando a questão do casamento e dos filhos, arrumar dependentes que nos façam sentir úteis e necessários (aqui podemos lembrar de muitas profissões). Quem sabe o cônjuge (ou o filho, ou o emprego... ) que me inferniza é para provocar a vida que há em mim?

Eis, quem sabe, a queda/expulsão do paraíso: não entender e muito menos aceitar a morte e a vida em nós. Aliás, ambas estão dentro de nós e não fora de nós, logo, não adianta procurar a vida fora e nem querer se esconder da pulsação de morte.

O que nos resta é buscar o equilíbrio dentro de nós. Equilíbrio que também é a lei maior da Natureza. 

 

   Tércio Inácio Jung 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Visita dos Magos e minha visita

crônica - BOLSONARISMO x JAIR