Crônica: NO VALE DA MORTE E DA SOMBRA
NOSSA DURA REALIDADE
Freud
tinha razão, mas em partes: de fato a libido nos move e de fato o inconsciente
também faz parte da existência de cada um de nós. Entretanto, temos uma
infraestrutura natural (mas inconsciente
em nós humanos),sobre a qual a libido se estrutura, qual seja, nossa condição
orgânica vem carimbada com a finitude, finitude que em outras palavras e para
ser claro e direto é a morte orgânica, ou melhor, como dizia Schopenhaeur:
nascemos para morte (eu acrescentaria: morte orgânica).
Nesta
condição natural somos iguais aos demais seres vivos, afinal, é da nossa condição
orgânica, física, corporal... assim como em qualquer animal ou planta. O que
nos diferencia é nossa condição racional,
entretanto, por isso, acabamos mais complicando nossa existência do que tomando
consciência da nossa dura e real condição.
A
humanidade, quase em sua totalidade, caminha em círculos no vale da morte e da
sombra. Comparável a um deserto árido, penoso e inseguro, onde a morte orgânica
a cada dia está mais presente, a miragem (nosso mundo das ideias, ou, nosso
vale das sombras) acaba se tornando numa forma de fuga daquela dura realidade,
lembrando: da nossa condição de finitude.
Graças
também a razão, a humanidade chegou a criar toda uma infraestrutura neste
deserto a fim de facilitar suas voltas em circulo, afinal, tudo está edificado
no deserto. De tanto iludir-se com miragens nem mais temos consciência de que,
de fato, vivemos num deserto e iludido com um mundo das sombras.
O
deserto é duro, assim como a nossa condição de finitude que não nos larga
enquanto tivermos corpo. Aliás, o corpo tem sua inteligência própria (aliás,
quem sabe, este é o inconsciente freudiano), e pelo jeito é a infraestrutura
para nossa inteligência racional, que seria a superestrutura.
Enfim,
cada um é o seu deserto e cria o seu mundo de miragens. Ou ainda, se acostuma a
viver no deserto e em vez de apelar às miragens se agarra em outros prazeres/libidos,
ou até, muitas vezes, cria necessidades maiores que o próprio deserto como: um
casamento sem amor, uma família sem ter condições de sustentar, filhos (quem
sabe a forma mais comum, mais que as miragens), um emprego que odeia, ou sempre
sem emprego, vicio em drogas, vicio em jogos, orgias sexuais, permanente
insatisfação com o corpo, querer sempre mais poder, salário melhor, sempre mais
bens, sempre mais títulos... e assim, nunca precisará ver e assumir o seu
deserto de sentidos.
E
a humanidade vive no vale da morte e das sombras; dando voltas no deserto de
Ferrari ou a pé, imaginando “céus, paraísos, a iluminação”, fugindo de sua
condição orgânica/finita com necessidades que o distrairão e ocuparão uma vida toda.
Schelling
dizia que no homem a Natureza se tornou autoconsciente. Eu digo: a humanidade está cada vez mais longe
de ter consciência da sua condição de natureza, apesar de ser conduzida por ela
do nascimento até a morte orgânica (infraestrutura natural; ou inteligência do
corpo (sobreviva e reproduza-se)), perdida no mundo das sombras (superestrutura
humana; ou inteligência das ideias/nossa racionalidade), logo, com poucas condições
para um existir, aqui e agora, equilibrado..
E
ainda nos achamos OS INTELIGENTES. Que miragem, “agradável” por um longo tempo
e, para grande maioria, toda vida.
Tércio
Inácio Jung
Muito interessante. Parabéns pela reflexão.
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