ENSAIO: “TEMPO” UM APRIORI DA RAZÃO PRÁTICA
“TEMPO” UM APRIORI DA RAZÃO PRÁTICA
Kant tinha razão ao afirmar que há uma “infraestrutura” para o pensamento, ou seja, as categorias apriori; ele dizia que pensamos sempre envoltos pelo espaço e tempo e causalidade.
Partindo disto, parece-me possível afirmar que nossa razão prática - nossa vontade - também opera a partir da categoria do tempo, ou melhor, nos movemos sempre envoltos pelo “ontem” ou pelo “amanhã” e, dificilmente, nos movemos envoltos pelo apriori “hoje”, por incrível que pareça.
Muitos certamente estão pensando: mas o amanhã não existe, logo, como pode o apriori “amanhã” dirigir tanto nossa vontade? Ao que eu responderei: vá dar uma volta num cemitério, mas com tempo e livre, na medida do possível, de juízos de valor e na volta me diga se o teu amanhã já não está traçado. Na verdade a morte orgânica nos amedronta tanto (construção de muitas civilizações, ou seja, do “ontem”), mais inconsciente do conscientemente, que passamos até a definir a morte como finitude a fim de não assustar tanto assim.
Lembro: quem tem corpo também “carrega” a finitude com ele. Deixo claro, de imediato, que não estou fazendo apologia à morte, mas, apenas chamando à atenção para o nosso inevitável “amanhã”. ( As religiões souberam - e sabem - tirar proveito dessa nossa questão).
Mas, façamos um esforço para analisar o apriori “hoje”, pois, se ele facilmente nos escapa do pensamento (da razão pura) e da nossa ação (da razão prática). Será que deste apriori os animais não são um exemplo real? Afinal, me parece que eles não se preocupam com o “amanhã”, muito menos com o “ontem”; com esta observação, espero não causar problemas às pessoas que transferem aos animais tantas carências e desejos pessoais, ou seja, transferem suas questões de “ontem” e de “amanhã” das quais, felizmente, o bichinho não tem noção alguma.
Parece-me que assim, até simplifico algumas teorias cientificas, que com seus conceitos complicados, antes não querem ser compreendidos do que o inverso. Parece-me que toda razão instrumental de Weber, enquanto razão prática, é simplesmente um agir sobre o apriori “ontem”, pois ele nos move em função de algo que pressupomos ter faltado ontem e por isto criamos sempre mais instrumentos/ferramentas que possam facilitar nossas vidas. Arrisco a dizer também que toda teoria da razão comunicativa de Habermas, parece ser um bom caminho para o apriori “hoje”, afinal, é a linguagem que pode efetivamente nos conectar com o outro e com o hoje, ou melhor, a razão comunicativa me leva a interação aqui e agora.
Enfim, ainda deixo claro que como o apriori está dado, ou seja, não temos como pensar e agir longe dele, segundo Kant, o melhor que podemos fazer é conscientizarmo-nos dessa infraestrutura da nossa razão prática e, no mínimo, tentar o equilíbrio; aos mais ousados proponho simplesmente um agir a partir do “hoje”, logo, da razão comunicativa que nos conecta com o outro e com o real.
Tércio
Inácio Webler Jung
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