CRÔNICA: O ENGÔDO, NO BRASIL, SOBRE “SER”UNIVERSIDADE

 

CRÔNICA

O ENGÔDO, NO BRASIL, SOBRE “SER”UNIVERSIDADE

Após um ano na Alemanha, em Doutorado-Sanduíche, pude verificar em que consiste uma/a Universidade “original”. Original no sentido da que inspirou e orientou, em boa parte, a instituição da universidade brasileira.

Entretanto, houve um equívoco (espero que não intencional).

Os doutos brasileiros – ou no Brasil – a frente da criação da universidade brasileira, esqueceram-se da distinção, que se faz na Alemanha, em relação ao Ensino Superior, ou melhor, lá se separa o Ensino Superior entre Universität(universidades de pesquisa) e as FachHochschule (educação superior técnica, ou, cursos superiores de ciências aplicadas). Enquanto a primeira se volta completa e diretamente à pesquisa, a segunda se volta para a preparação técnico-profissional (que também inclui pesquisa específica).

Ou melhor,um curso de graduação, por si só, não faz sentido na Universidade alemã. Ingressar na Universidade, lá, implica direta e claramente no interesse de seguir – pesquisando - para o Mestrado e depois para o Doutorado. Foi isto que Humboldt preconizou para a Universidade alemã. Humboldt não estava muito preocupado com a educação superior técnica, mas sim, com a universidade de pesquisa.

Dito isto, também fica mais claro, a questão da insistência humboldtiana pela liberdade de estudo e de solidão, afinal, o sujeito que ingressa na Universidade tem interesse/capacidade/projeto na pesquisa e não em um curso superior profissionalizante.

Porém, a procura pela FachHochschule sempre foi maior (e ainda é) do que pela Universidade, ou seja, a Universidade é para poucos, não devido ao difícil acesso, mas, devido ao seu sentido de ser, a sua função que eu definiria como “função cultural”, na medida em que está implicada diretamente com a produção de conhecimento, enquanto as FachHochschule desempenham uma “função social” direta, na medida em que formam “profissionais superiores”, além de estarem voltadas para o desenvolvimento de técnicas e ferramentas de aplicação prática no trabalho/nas empresas. 

Enfim, o Brasil copiou mal o modelo alemão de Ensino Superior. Misturou tudo e, eis o engôdo que temos. E pior, nossos doutos seguem defendendo essa mistura como se fosse a universidade alemã.

Na verdade, é inviável compararmos a nossa Educação Superior com a alemã. Seria como querer usar as plantas/projetos de duas casas para construir um prédio de 3 pavimentos (ensino, pesquisa e profissionalização). Na verdade, com a criação dos Institutos Federais (que poderiam/deveriam ser só profissionalizantes), acabaram fazendo um 4º pavimento nesse prédio. Aliás, considerando a pós-graduação que temos, seria até possível dizer que temos um 5º pavimento no prédio da Educação Superior brasileira.

Considerando a nossa situação eu diria que a educação institucionalizada, no Brasil, até a pós-graduação desempenha uma “função social” e apenas a pós-graduação desempenha uma “função cultural”, logo, poderíamos comparar, apenas, a nossa pós-graduação com a universidade alemã.

Ou melhor, precisamos ver a nossa realidade e superar o engôdo que criamos e pior, seguimos alimentando. No Brasil só há, efetiva criação de conhecimento (função cultural), na pós-graduação (claro que ocorrem raras exceções na graduação). 

 

   Tércio Inácio

 

 

 

 

 

 

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