Crônica ELEIÇÕES
CRÔNICA
ELEIÇÕES: exercício de cidadania ou, de novo, só de interesses individuais; exercício da razão ou só dos afetos?
Envolvido pelo clima das eleições, pelos belos discursos dos candidatos e por “ordinários” comentários de alguns do povo (alguns vizinhos que ouço conversando na rua e os pedreiros que estão trabalhando na casa do vizinho e mais alguns tantos que ouço ao ir ao supermercado...), fico a pensar com meus botões: o que há, de fato, de democrático, de cidadania, de coletividade, de preocupação com a comunidade/sociedade... nas eleições? Ou, são apenas interesses individuais, tanto dos candidatos quanto dos eleitores, que estão sendo “travestidos” com outra roupagem? O processo eleitoral também é movido pela razão, ou apenas pela afetividade (empatia ou repulsa, sem muito pensar)?
Ontem os construtores da casa do vizinho estavam inspirados. Me desconcentraram, várias vezes, na minha leitura do livro Paideia, hehe: “- Jucão, porque você não foi na carreata de ontem? Tavam dando vale combustível para quem tivesse adesivo deles no carro...” Eu fui, mas não votarei neles. Eu tento votar em alguém que vai ganhar, para poder pedir coisas depois para mim. – Tá certo! Eu também aproveito o máximo que posso. Eles também só pensam no bolso deles... E assim, o papo fluiu até chegar o dono da casa. Trabalho retomado e leitura também. hehe
Caro leitor, proponho aqui um exercício, veja o que está levando você a apoiar/votar em determinado candidato. Possivelmente, agora você vai tentar justificar racionalmente a própria opção, inclusive com nobres devaneios sociais e humanitários, entretanto, te desafio a ir além dessa necessidade justificadora, ou melhor, busque o motivo dentro de você – e não fora – que te move. Este motivo vai além dos meus interesses individualistas/afetivos? Afinal, você não está elegendo alguém para te atender, mas, para representar e trabalhar pela comunidade toda.
Impossível não me lembrar de Hobbes (1588 - 1679) nesta altura do campeonato, ele que mergulhou no estudo da natureza humana e enxergou um ser bastante egoísta, com elevado instinto de autopreservação e sempre pronto para destruir qualquer um que possa atrapalhar sua busca por preservação. Se, em Maquiavel, o problema era a conservação do poder, em Hobbes o problema é a conservação do homem/indivíduo.
Da mesma forma realista, a meu ver, temos Schopenhauer (1788 - 1860), que considerava ser o instinto de autopreservação o mecanismo básico da vida das pessoas, ou seja, a imperatividade de sobrevivência condiciona/arrasta a todos. Assim, para ele, cada ser vivo age em busca de meios para a realização dos próprios desejos e da própria satisfação.
E agora? Temos coragem de olhar para esse espelho? E como ficam as eleições?
Conclusão possível: nem o candidato ilude ao eleitor, nem o eleitor ilude ao candidato, mas, cada um ilude a si mesmo em relação aos afetos que o movem nas eleições.
Vamos para frente do espelho. Olhe, contemple, sinta, mas também pense nos outros.
Tércio
Inácio
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