Crônica - DEMOCRACIA: um produto ou um processo?

 

Crônica

DEMOCRACIA: um produto ou um processo?

Costumo dizer que “democracia” é um termo tão viciado quanto “felicidade”. Tão usados, mal usados, que chegam até a fundamentar a defesa de atos autoritários e de sofrimento. Usados em Instituições, no caso do termo democracia, que pouco tem de democráticas, e por pessoas que as manipulam a seu bel prazer, como se pudessem ser livremente manipulados a serviço de intenções egoístas e individualistas. Claro que, em geral, estas intenções estão muito bem disfarçadas e inclusive, um grande grupo as sustenta e alimenta hodiernamente.

O grande exemplo é o sistema político brasileiro, sobretudo, o processo eleitoral. Em primeiro lugar, somos OBRIGADOS A VOTAR (não vejo nada de democrático nisto), segundo, dizem que elegemos representantes, mas, na verdade, apenas legitimamos o “emprego político” para alguns poucos. Poucos no sentido de quase sempre os mesmos (mesmas famílias) estarem se mantendo no ramo da política partidária, que é bem diferente de uma política brasileira, uma política de cidadãos brasileiros. Aliás, parece que o político partidário esquece que também é cidadão brasileiro. Será que é por isso que muitos deles gostam de abrir contas bancárias em outros países? hehe

Mas, além deste evidente maltrato do termo “democracia” na política partidária, também venho pensando sobre o rotineiro uso deste termo na educação escolar. Como estudante, de longa data, não consigo notar muita democracia no sistema escolar/universitário, afinal, tudo já está definido e decidido sem a menor participação dos alunos, nem dos pais, muito menos da comunidade local. Aliás, em sala de aula, não espero nenhuma relação democrática, pois o professor é o detentor de um saber específico, conhecedor dos legados culturais-científicos, acumulados ao longo da história da humanidade. E mais, espero que o professor seja uma autoridade na área de conhecimento dele (algo bem diferente de ser um autoritário e mais ainda de ser um “terrorista avaliativo”, que confunde qualidade de ensino com quantidade de reprovados), e não um desconhecedor, como eu, que ainda estou na busca de um saber científico específico. De forma que os processos democráticos não se sustentam na instrução pública, em sala de aula, pois é justamente o contrário que legitima a existências das escolas e das universidades, ou seja, a necessária hierarquia em relação a cultura científica que possibilita o ensino e a transmissão dos legados culturais às novas gerações.  Agora, se os professores querem dar “aula de democracia”, sugiro que busquem saber o endereço da Câmara de Vereadores de sua cidade e participem das audiências públicas..., isto já seria um bom começo, prático e não só ideológico.

Ainda na seara do ensino institucionalizado, um outro engodo são os Conselhos Superiores das Universidades, compostos em sua maioria esmagadora por docentes, incluindo poucos representantes discentes e técnicos administrativos (comunidade externa local nem participa efetivamente) apenas para tentar legitimar as decisões dos docentes (que dominam nos Conselhos), como se fosse um produto democrático, entretanto, o processo de debates e de construção das decisões foi bem unilateral. Sem mencionar que os maiores cargos administrativos também são ocupados por docentes, em geral. Se na educação os processos  democráticos estão assim, rendidos pela sede de “mando”, imaginem na política institucionalizada.

Por fim, reforço que a “democracia” se refere mais a um processo participativo, a uma interação equânime com os outros, sem saber se o resultado deste caminhar coletivo levará a um resultado benéfico para todos os envolvidos. Entretanto, é bem provável que um processo democrático levará a um “resultado democrático”, já o inverso, é puramente ideológico, pois a democracia como produto a ser buscado, não se sustenta por si só.

Então, se a democracia é um processo de entendimento entre as pessoas a respeito de algo, quem sabe a nossa perseguida “felicidade” também precise incluir mais os outros, ou seja, não é um resultado a ser buscado egoisticamente, mas, um caminho a ser caminhado na companhia dos outros. 

 

   Tércio Inácio

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