Crônica - Dia do professor: ser professor ou estar professor?

 

Crônica

Dia do professor: ser professor ou estar professor?

Primeiramente, gostaria de dedicar esta ao meu professor do primário, tragicamente assassinado pelo próprio filho, em 1997. Entretanto, como ex-aluno, posso afirmar que o “estar” professor, dele, não se compara - considerando a tragédia - pelo “ser” pai, desempenhado.

Isto dito, penso já ter dado uma dica em relação ao “estar” professor, forma que diverge bastante do “ser” professor. Aliás, ouso dizer que, quando a educação se diferenciou da escolarização e se institucionalizou, o “ser” professor também se institucionalizou, tornando-se uma profissão, logo, o “ser” professor foi sendo substituído, gradativamente, pelo apenas “tornar-se” professor. Uso o termo “apenas” na intenção de enfatizar que qualquer um pode “tornar-se” professor (bastando preencher os requisitos legais, como, por exemplo, passar num concurso público)  sem, necessariamente, ter o perfil, a paciência, o discernimento, a competência, ou, em termos comuns, a vocação para ser professor. Aliás, me perdoem a provocação, mas, algumas vezes, preciso concordar com o dito popular: “ele não deu certo em sua profissão e se tornou professor”.

Mas, sejamos razoáveis, ou melhor, para ser razoável não vou nem usar, como referência, os professores que são professores por vocação, nem nos grandes criadores de ciências, porém, vou me balizar pelo que considero - considerando a conjuntura institucionalizante da escolarização, ao longo da história humana – “estar” professor.

Bem sabemos que a humanidade sempre teve homens e mulheres “iluminados”, ou seja, pessoas que pareciam/parecem estar além do seu tempo histórico e do seu espaço familiar e social, pelas questões que conseguiram entender e/ou pelas coisas que criaram. Nesse movimento constante, de passo em passo, a humanidade foi construindo um legado cultural científico. Legado que é considerado, pelas pessoas, a base social para se seguir caminhando como humanidade. Sendo assim, decidiu-se pela “apresentação”, de forma estruturada, desses legados culturais-científcos, as sempre novas gerações (cada um precisa aprender para si, afinal, ninguém pode aprender pelo outro), estas que, em primeiro lugar, precisavam/precisam ser alfabetizadas.

Então, num segundo momento, a sociedade optou por fazer esta “apresentação qualificada” dos legados culturais-científcos (inclusive os técnico-profissionalizantes), de forma estruturada, por meio de pessoas com capacidade e competência para tal compromisso social e para tamanha responsabilidade perante os legados da humanidade. Dito isto, arriscaria dizer que o que era vocação, transformou-se em  compromisso e responsabilidade social, ou seja, não ter mais vocação para ser professor até é relevável, mas, agora, tornar-se professor sem querer assumir esse compromisso e essa responsabilidade perante toda humanidade, repito, perante toda humanidade e não apenas perante uma prefeitura, ou uma Escola ou Universidade, não é apenas falta de vocação para o ensino, mas também é, falta de caráter humano.

Enfim, neste dia do professor, gostaria de parabenizar: aos poucos que ainda desempenham a vocação de ser professor; aos muitos que se tornam professores e estão à frente e assumem, com caráter e responsabilidade, esse nobre e gigantesco compromisso perante toda humanidade; aos demais, que também são muitos, por favor, não sigam sendo desumanos com outros e nem consigo mesmos.

Parabéns professores! Para vocês que são ou estão professores!

Obrigado aos quase 200 professores que já tive, nos meus 38 anos de escolarização.

E obrigado ao primeiro e grande professor, que me alfabetizou e me apresentou, pela primeira vez, a cultura-científica humana. 

 

    Tércio Inácio

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